A conformação de grupos de interesse no debate sobre o tratado de comércio Brasil-Estados Unidos
DOI:
https://doi.org/10.29182/hehe.v16i2.310Resumo
O presente trabalho teve como objetivo a análise da conformação dos grupos de interesse que se posicionaram no debate acerca da ratificação do Tratado de Comércio entre Brasil e EUA, em 1935. Observamos, na historiografia acerca do episódio, que os grupos em oposição foram designados como os “representantes da indústria” (contrários ao tratado) versus os representantes da “agroexportação” (favoráveis ao tratado). Contudo, não há uma definição mais precisa para o segundo grupo mencionado. Foi possível verificar, a partir da documentação, que quase nenhuma das manifestações em defesa do tratado foi encaminhada por representantes diretos das frações de classe ligadas às atividades agroexportadoras. Assim, buscamos averiguar a conformação concreta de tais grupos e avaliar a pertinência da tese da intencionalidade da promoção da industrialização pelo Estado para a compreensão do caso em questão. Propusemos a hipótese de que os defensores do tratado fariam parte de uma elite formada e educada em um período de hegemonia do pensamento liberal, segundo o qual o caráter da economia brasileira seria essencialmente agrário e a indústria ocuparia papel secundário. Finalmente, concluímos que a defesa do tratado foi feita por membros da burocracia estatal e da elite política, em nome de uma ideologia particular, afinada em vários aspectos com os interesses das elites agrárias, mas não diretamente motivada pela defesa desses interesses. Uma lógica própria, ligada aos interesses de autorreprodução da burocracia estatal, teria sido a matriz ideológica que norteou sua ação política.
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