Ferrovias agricultura de exportação e mão de obra no Brasil no século XIX
DOI:
https://doi.org/10.29182/hehe.v3i1.124Resumo
O presente artigo enfatiza a idéia de que o impacto das ferrovias sobre a questão da mão-de-obra não foi linear nem harmônico. Várias tensões emergem quando se confrontam as diversas análises sobre o tema. Se, por um lado, as ferrovias ajudaram a reduzir a demanda de mão-de-obra, por outro lado, elas contribuíram para aumentar a demanda de mão-de-obra, especialmente ao ampliar a fronteira agrícola, favorecendo a incorporação de novas terras para cultivo. Além disso, as ferrovias também exigiram um grande número de trabalhadores para sua construção, manutenção e operação. Da mesma forma, enquanto uma parte da literatura revela que, contribuindo para o desenvolvimento do capitalismo, as ferrovias estimulavam a transformação das relações de trabalho, uma outra argumenta o contrário. Isto é, que, ao propiciar a expansão da agricultura de exportação, as ferrovias contribuíram para fortalecer as relações escravistas e medidas coercitivas para atender às exigências do trabalho na agricultura. Este conflito foi observado por Saes. De acordo com o Autor, "se, por um lado, a ferrovia revigorou a economia escravista, pelo outro colocou alguns problemas para a sua existência". O presente texto questiona a idéia de uma identificação imediata entre ferrovias e trabalho livre. Na literatura sobre o Brazil essa associação decorre do fato da legislação existente proibir as companhias de empregar escravos na construção ou operação de ferrovias. Como veremos, há evidências demonstrando que essa regra nem sempre era seguida.
Este artigo também contribui para o debate ao tratar, mais especificamente, dos trabalhadores engajados na construção das ferrovias, um tema muito pouco estudado pela historiografia. O foco se concentra nos homens que construíram as ferrovias, especialmente durante as décadas de 1850, 1860 e 1870. Os poucos estudos existentes sobre os trabalhadores nas ferrovias investigaram principalmente os empregados em atividades relacionadas com a administração, planejamento e operação das ferrovias, e se concentraram basicamente nas últimas décadas do século dezenove e começos do século vinte. Foi provavelmente por isso que a maioria enfatizou aspectos relacionados com áreas urbanas e relações capitalistas. Este estudo mostra que escravos e trabalhadores sob contrato integraram a força de trabalho na construção de ferrovias no Brasil, assim como em vários outros países. No último quartel do século XIX, os planos e políticas implementados no País buscavam promover a transformação das relações de trabalho tendo como base longos contratos de serviços e legislações repressivas, independentemente de os trabalhadores serem brasileiros, imigrantes ou ex-escravos.
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